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Economia

Investimento chinês no Brasil desaba 78% em 2022 e bate menor nível em 13 anos, informa relatório

O Brasil aparece em nono lugar na lista dos principais destinos de investimentos da China no último ano, de acordo com dados do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China).

Com poucos empreendimentos intensivos em capital, principalmente nas áreas de mineração e energia, os investimentos da China no Brasil em 2022 caíram 78% em relação ao ano anterior, atingindo o menor nível desde 2009.

Considerando apenas os aportes que foram efetivados no período, as empresas chinesas colocaram US$ 1,3 bilhão no país, valor bem inferior aos US$ 5,9 bilhões de 2021.

Com isso, o Brasil aparece em nono lugar na lista dos principais destinos de investimentos da China no último ano, atrás de Arábia Saudita, Indonésia, Hungria, Singapura, EUA, Malásia, Zimbábue e Argentina.

Apesar da queda no valor dos investimentos, o número de projetos executados por companhias chinesas em território nacional chegou a 32, superando o pico histórico registrado em 2018.

Os dados integram o relatório do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China) que será divulgado nesta terça-feira (29).

De acordo com o estudo, o baixo valor investido em 2022 não necessariamente reflete um desinteresse da China em investir no país.

“A forma mais interessante de entender o interesse do investimento chinês é pelo número de projetos, e esse foi um ano que teve muitos projetos. O que não tivemos foi algum empreendimento muito intensivo em capital”, diz Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC e responsável pelo estudo.

Segundo ele, é difícil apontar com precisão os motivos dessa ausência de investimentos massivos em 2022. No entanto, o especialista explica que os valores costumam sem puxados para cima quando envolve negócios como a construção de linhas de transmissão de energia ou grandes fusões e aquisições na área de petróleo.

“Não tivemos isso em 2022, mas tivemos uma série de pequenos investimentos em vários setores”, afirma Cariello.

Projetos que mobilizam muito capital geralmente dependem de uma série de licenças para o início de suas operações, o que eventualmente pode adiar sua execução.

É o caso de um investimento de US$ 2,1 bilhões anunciado pela Honbridge na área de mineração em 2022. A necessidade de obter atestados de viabilidade ambiental impediu que o empreendimento fosse viabilizado no mesmo ano.

Como o estudo considera apenas os investimentos executados até o fim do ano, esses valores não entraram no cálculo. Caso o relatório incluísse os anúncios, a cifra de 2022 subiria para US$ 4,74 bilhões —ainda 20% menor do que a registrada no ano anterior.

Outro exemplo vem da montadora BYD, que assinou um protocolo de intenção em 2022 para instalar uma fábrica na Bahia, com investimentos de R$ 3 bilhões. A companhia, porém, ainda negocia os termos para assumir o complexo industrial da Ford em Camaçari.

“Esses US$ 3,4 bilhões que não entraram [na conta] são justamente de projetos anunciados que não foram colocados em prática. Mas é muito provável que entrem em funcionamento até o final deste ano ou em 2024”, diz Cariello.

O especialista descarta que a queda de 78% dos investimentos tenha sido motivada por um enfraquecimento da economia chinesa. Nos últimos meses, sinais de que o gigante asiático estaria à beira de uma crise passaram a preocupar o mercado e influenciar a Bolsa brasileira.

“[A crise] tem mais potencial para afetar a parte comercial do que de investimento. Um setor imobiliário menos aquecido implica a queda da demanda de minério de ferro, por exemplo”, diz. “Em termos de investimento não vejo essa influência, pelo menos por enquanto.”

Outro fator que poderia explicar o recuo nos investimentos chineses é a eleição presidencial de 2022.

Em campanha por Jair Bolsonaro (PL), o então ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a empresários que não queria “a ‘chinesada’ entrando aqui quebrando nossas fábricas, nossas indústrias, de jeito nenhum”.

O atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também manifestou preocupação com o avanço do país asiático na fabricação de produtos manufaturados e disse que a China estava “tomando conta do Brasil”.

Na avaliação de Cariello, é muito tentador afirmar que houve alguma influência da eleição na queda dos investimentos, mas cravar essa relação é algo muito difícil.

“Acho que, de fato, há essa preocupação de qualquer investidor estrangeiro em ano eleitoral, porque não sabe qual vai ser a mudança. Passamos por uma expectativa de ruptura muito grande, saindo do governo Bolsonaro para o governo Lula, mas os números não necessariamente apontam para isso”, diz.

Perfil de investimento da China no Brasil

De acordo com o relatório do CEBC, o setor de eletricidade teve o maior número de projetos confirmados, respondendo por 50% dos empreendimentos chineses no Brasil em 2022.

Em segundo lugar aparece a área de tecnologia da informação (25%), seguida pela indústria automotiva (6%), obras de infraestrutura (6%), agricultura (6%), setor têxtil (3%) e fabricação de materiais para uso médico e odontológico (3%).

O Sudeste foi destino da maior parte dos projetos chineses no Brasil, com 25 empreendimentos —o equivalente a 66% do total.

De acordo com Cariello, geralmente os grandes projetos da China no exterior são feitos por estatais, algumas diretamente influenciadas pelo governo central de Pequim.

No caso do Brasil, os maiores investidores em termos históricos são estatais centrais, como a State Grid, a China Three Gorges e as petroleiras CNOOC e CNPC.

Na avaliação do especialista, os dados de 2022 apontam para a manutenção de um volume alto de investimentos na área de tecnologia da informação, além de um maior direcionamento dos aportes na área de veículos elétricos.

A Great Wall Motors, por exemplo, deu continuidade aos projetos no Brasil após a compra da fábrica da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), com um plano de investimentos de R$ 4 bilhões entre 2022 e 2025

A Volvo, empresa sueca que tem a chinesa Geely como sua principal acionista, deu início a um investimento de R$ 881 milhões em sua fábrica em Curitiba.

O relatório do CEBC ainda aponta que, das 22 empresas chinesas que investiram ou anunciaram aportes no Brasil em 2022, 8 eram estreantes.

Um dos casos emblemáticos é da Shein que inaugurou o investimento de uma empresa de origem chinesa na área têxtil por meio de joint ventures com empresas locais

Considerando os investimentos da China no mundo, dados oficiais do governo de Pequim mostram que os aportes não financeiros subiram 2,8% em 2022, chegando a US$ 116 bilhões.

As cifras caíram em importantes destinos, como União Europeia e América Latina, mas cresceram para EUA e Austrália.

“Esse cenário menos favorável aos investimentos refletiu uma conjuntura internacional desafiadora, marcada por fatores como o acirramento da disputa entre Washington e Pequim, a pandemia de Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que levaram os investimentos internacionais em todo o mundo a uma queda de 12% entre 2021 e 2022”, diz o relatório.


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