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Economia

Brasil lança 1ª bolsa de crédito de carbono do mundo com expectativa de movimentar R$ 12 bilhões

A B4 permite a negociação dos créditos como um ativo financeiro por meio da tecnologia blockchain.

A primeira bolsa de créditos de carbono do mundo, a B4, foi lançada nesta quarta-feira, 16, em São Paulo. Ela permite a negociação dos créditos como um ativo financeiro por meio da tecnologia blockchain.

A ideia é que a bolsa atue como um facilitador para as empresas que querem evitar a pegada de carbono e impulsionar a transição energética por meio de uma economia com foco em regeneração. “Ela não vai ser uma alternativa a B3. Ela vai listar ativos tokenizados e projetos voltados à sustentabilidade”, afirma o fundador da B4, Odair Rodrigues.

Segundo uma prospecção interna feita pela empresa, a expectativa é movimentar R$ 12 bilhões em crédito de carbono no primeiro ano após o lançamento da plataforma. Eles, no entanto, destacam que, com base nas empresas pedindo para serem listadas e nas que querem comprar, a demanda é dez vezes superior a esse valor, considerando as grandes empresas que já demonstraram interesse pelo projeto. Os nomes das empresas só vão ser anunciados após o lançamento.

A B4 adiantou que indústrias grandes de países como Estados Unidos, Canadá, Japão, França e Arábia Saudita já demonstraram interesse em comprar e comercializar os créditos da B4. No Brasil, empresas de varejo que vendem o crédito dentro dos seus aplicativos, como iFood e Uber, teriam demonstrado interesse.

Bolsa de crédito de carbono

Como objetivo final, a B4 tem a intenção de se tornar uma bolsa de ação climática. Neste primeiro momento, no entanto, a plataforma irá comercializar apenas créditos de carbono.

Além de facilitar o acesso de empresas à negociação de ativos digitais lastreados em carbono positivo, a B4 também tem a intenção de impulsionar a chegada de mais empresas ao carbono neutro através de uma plataforma controlada. “A tecnologia permite o fracionamento e venda rastreada e auditável destes créditos, evitando que as empresas finjam adotar práticas sustentáveis”, afirma o CEO da BBChain, André Carneiro.

Para o CEO e fundador da Green Domus, empresa parte da Accenture, Felipe Bottini, a blockchain (cadeia de dados que permite o compartilhamento de bens e informações) oferece uma estrutura com inúmeras vantagens em relação à segurança, rastreabilidade, auditoria e transparência das transações, permitindo que mais empresas ingressem de forma direta ou indireta no mercado de carbono.

Rodrigues ainda afirma que a plataforma surge como resposta ao maior problema do mercado de crédito de carbono: a duplicidade dos créditos. Segundo o especialista, quando um crédito de carbono é emitido ou negociado mais de uma vez, resulta em usos indevidos de um ativo já debitado.

Com a rastreabilidade da blockchain, Bottini e Rodrigues destacam que haverá apenas um registro daquele ativo, solucionando o problema das empresas envolvidas no mercado de compensação de emissões, que, por vezes, acabam perdendo a confiança dos seus investidores.

“Sem um sistema adequado para rastrear e registrar de forma transparente as transações desses ativos, o problema tende a se repetir. Com a tecnologia blockchain, a B4 oferece uma solução que permite o registro imutável e eficaz das informações em um ambiente transparente distribuído”, destaca.

O CEO da Hathor Labs, Yan Martins, destaca ainda que relação ao mercado de carbono, a tecnologia pode ser essencial para trazer eficiência e agilidade por reduzir a necessidade de intermediários no mercado, além de democratizar o acesso a esses mercados, incluindo também as pequenas empresas e pessoas comuns.

Como vai funcionar?

Ao contrário da B3, em que é preciso negociar a compra e a venda de ativos por meio de uma corretora de valores, a empresa poderá se cadastrar na plataforma, preencher informações similares às solicitadas pelo banco e criar uma conta. Depois, pode comprar os créditos de carbono após transferir a quantia para a conta.

“Vai operar de forma similar a uma conta de banco ou a compra de criptoativos, com a diferença de que iremos verificar as empresas que estão comprando”, explica Rodrigues.

Uma indústria que se interesse em começar a sua compensação de crédito de carbono, por exemplo, pode fazer o cadastro, comprar o crédito de carbono e mantê-lo na carteira da corretora.

Para compensar a pegada de carbono efetivamente, basta trocar os tokens (dispositivo eletrônico que funciona como uma chave eletrônica) por um “certificado” através de uma NFT (ativos digitais que ficam armazenados na blockchain) emitida pela própria B4 que irá garantir que a compensação está sendo feita.

“É uma forma, inclusive, de anunciar para a sociedade que aquela empresa está realmente fazendo a compensação, já que ela pode incluir essas informações nos próprios balanços financeiros”, diz Rodrigues.

Esse processo de compra livre, no entanto, acontece apenas da primeira vez. Na segunda compra, a empresa deve demonstrar interesse em se tornar mais sustentável, de fato, ao invés de apenas compensar as suas pegadas.

“Depois da primeira compra, ele vai ter que responder a outros tipos de questionário para provar que está evitando a pegada de carbono e não somente compensado. Se eu permitir somente a compensação, vai ser um certificado que ela pode poluir”, explica Rodrigues. Ele afirma que ações práticas devem ter sido adotadas, como instalar sistemas para evitar emissões poluentes ou apoiar projetos de cunho sustentável.

Segundo ele, essa comprovação não será um impeditivo para movimentar os créditos que a empresa já possui, só para a compra de novos. “Sabemos que vão ter empresas que não querem um projeto de sustentabilidade, só fazer um trade como investidor. E está tudo bem, mas vai ter um limite para que o crédito seja exclusivo para empresas que precisem compensar no futuro.”

Ele diz ainda não existir um parâmetro definido para esse limite, já que ele é condicionado às toneladas de carbono disponíveis no mercado. Rodrigues explica que qualquer pessoa física do mundo também poderá comprar a partir do momento que o livro de ofertas for aberto, podendo ter aquele ativo em carteira e sofrer as oscilações do mercado.

A B4 é regulada pela CVM?

Em um primeiro momento, a B4 não será regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pois só negociará os chamados utility token (tokens de utilidade, em livre tradução), que dão acesso a algum serviço ou benefício.

No entanto, a empresa afirma que quando comercializar security tokens, que são títulos que representam um ativo real, como as ações, por exemplo, reguladas pela CVM, irão pedir as devidas autorizações. A expectativa é que isso aconteça até dezembro, caso alguma das empresas queira listar esse tipo de ativo.


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